Mesa Redonda
Linguística Clínica

Debatedora: Ana Carolina Constantini (Faculdade de Ciências Médicas/UNICAMP)

 

Fernanda Miranda da Cruz (UNIFESP)

Subsídios da Linguística para a descrição de interações envolvendo sujeitos autistas: os encontros entre a Linguística e os estudos clínicos

Do ponto de vista clínico, a condição do autismo se expressa como uma heterogeneidade de perfis cognitivos, linguísticos e sociointeracionais dentro de um espectro. Tal heterogeneidade pode colocar desafios para uma caracterização linguístico-interacional da categoria clínica autismo. No entanto, movimentar-se entre a descrição do déficit dos indivíduos com alterações neurocognitivas e a forma como todos os envolvidos na interação a organizam, abrigando ou não acomodações e ajustes possíveis, nos posiciona em um dos pontos de encontro possível entre a Linguística e os estudos clínicos, cujas orientações são distintas. Nesta apresentação, vamos mostrar como estudos linguísticos interacionais de perspectiva multimodal têm oferecido uma ampliação descritiva e analítica de interações das quais participam sujeitos autistas minimamente verbais, uma vez que integra de forma fina o papel dos gestos, dos padrões prosódico-entonacionais, do espaço, do corpo e de objetos físicos presentes no ambiente imediato na descrição da estruturação e da construção linguístico-interacional, deixando ver, por exemplo, a temporalidade das interações, seus recursos constitutivos, padrões de direcionamento de olhar menos típicos, (des)coordenação de ações dos participantes e papéis interacionais que ocupam. Ferramentas linguísticas como o software ELAN, a transcrição e os desenhos de construção de corpora de linguagem em contextos situados são outro exemplo de ampliação descritiva e analítica de dados linguísticos de sujeitos com alterações linguístico-cognitivas. Como discussão, podemos considerar que se de um lado as abordagens situadas da linguagem-em-interação estão menos aptas a certas generalizações, de outro, têm mostrado vantagens descritivas ao se atentarem para as formas de interação social situada que acontecem no encontro entre sujeitos neurotípicos e atípicos, nos levando a um entendimento da própria interação social, em termos de sua flexibilidade e expansibilidade de estruturas; ajustes, acomodações e ações dos participantes para alcançarem intersubjetividade; visibilidade de perfis neurodiversos de sociabilidade.

 

Guiomar Silva de Albuquerque (UFES)

Promoção da literacia familiar a partir de uma biblioteca em um ambiente de saúde

A leitura é a condição para plena participação no mundo da cultura. Através dela pode-se criar repertório, desenvolver sequência narrativa, atribuir sentidos. Com isso, torna-se importante promover o conhecimento das famílias acerca da Literacia Familiar, definida como conjunto de práticas e experiências relacionadas com a linguagem oral, a leitura e a escrita, que as crianças vivenciam com seus pais ou responsáveis (Brasil, 2019). A criação de uma biblioteca dentro de uma Clínica Escola, com o objetivo de facilitar o acesso dos usuários atendidos à leitura, surge como uma oportunidade de apresentar, de maneira lúdica (Raminho et al., 2023), a Literacia Familiar como estratégia para avanço do tratamento fonoaudiológico almejando a alta e a formação de bons leitores (Corso et al., 2013; Sousa; Hubner, 2020).